Não digam sobre a minha amizade com o vento
que venho ao quintal falar um pouco com o ar que passa, só para saber o que vai no mundo, ver as cores que se usam, enviar o meu cheiro para longe, sorrir às rolas do loureiro e lembrar as folhas verdes que ficaram secas.
Xuuu… Não me denunciem, por favor. Já só me resta essa palavra que lanço ao ar,
último pedacinho de amizade.
Eu estou aqui.
Ocupo um espaço minguante.
Já só é o vento que me faz sair.
Não digam nada, eu sou feliz assim.
Aqui dentro invento-me.
Só preciso de um pouquinho de vento para um pequenino voo galináceo e depois volto para dentro. Só isso.
Mas que não se saiba.
Vai ficar feio.
Até o vento.
Porque tudo o que é meu é feio.
E eu, tão bela, tão amada, tenho de, devo, redundar-me.
É isso.
Não é?
Já só me resta a beleza do vento mas só se não se souber.
É. Ficarei tão pequenina que não aguentarei uma corrente de ar.
Terei de fechar as janelas para poder inventar liberdade.
Os vidros são duplos, mas não aguentarão.
Não aguentarei.
Xuuu…