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Sou actriz, se me perguntam a minha profissão. Mas sou muito mais do que isso.

Fingir que somos muitos.
Viajar o país de lés a lés num cinquencento amarelo com espectáculos na mala.
Ser sozinha e valer por todos.
Só por teima, resistir, insistir, persistir… ir,ir, rir…
Desistir
Parar quando já não há alma que aguente. Fazer outras coisas. Ser outras coisas.
Aprender a ser de novo.

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Receber e partilhar.
Dois encontros breves e marcantes no trabalho do corpo
Marie-Luise Thiele – com a sua delicadeza e sensibilidade extrema, levou-me, tão subtilmente, a descobrir o potencial do corpo para expressar e expurgar emoções.
Peter Michael Diez – presenteou-me com a libertação de tabus que nem eu própria reconhecia.
Com Stanislavsky no bolso.
“O Método” com a Marcia Haufrecht. Esta senhora foi um bálsamo no meu frágil estado de actriz no primeiro ano de encontro (foram 3). Para além das fantásticas ferramentas que ela ofereceu sobre o Método de Lee Strasberg e treino EMDR, restituiu-me a dignidade artística.
Com ele aprendi a valorizar e a amar o que me é singular.
Do outro lado do espectro técnico, tenho (para sempre!) o Norman Taylor com quem fiz um Curso de Especialização Profissional em Teatro do Gesto (Teatro Físico, método Jacques Lecoq).

Uma benção este mestre do teatro, do olhar, da generosidade e da alegria, que me conduziu ao reconhecimento da minha própria essência artística diferente de qualquer outro artista, independentemente da técnica. “You don’t do it right or wrong, you do it how“. Ouro.
Actriz sem escola
Este grande ciclo formativo é encerrado com Sergei Ostrenko que desenvolve os princípios da biomecânica para o actor contemporâneo numa mescla de técnicas. Com ele, tomei consciência de que posso utilizar os instrumentos de que precisar a cada passo, sem a pretensão de me especializar numa única escola.
Aprender em estado de graça
Finalmente, cheguei à Universidade de Évora: ao Mestrado em Teatro/Arte do Actor falta um projecto final. Desse período, guardo memória de uma felicidade extrema marcada por uma liberdade e experimentação artísticas. A Fernanda Lapa era, na altura, a directora do curso… mas ela foi muito mais do que isso. Se tenho uma mãe no teatro, é ela. Exigente como tudo, ultrapassando a relação professora/aluna para uma relação de directora/actriz nunca me permitiu perder tempo com inseguranças levando-me a ultrapassar limites, a entrar no meu desconhecido. E no entanto, sempre maternal e generosa.

Todos os mestres que aqui destaco têm isso em comum: a generosidade de partilhar o seu saber e um conhecimento profundo do ser sensível. Foi como se todos eles me conhecessem de há muito. Os afectos sempre presentes.
Dizer e Cantar
A minha voz foi crescendo e ganhando corpo com os anos.
Em Évora, do João Grosso recebi a ciência do aparelho vocal.
Muitos anos de poesia dita em voz alta deram-me a conhecer e a dominar a voz.
Para a minha filha comecei a cantar e a brincar com os sons… sem medos, de forma livre. E não perco um dia desse trabalho que tem sido precioso.
Não tenho muitos louros de que me gabar. Mas sou actriz, até quando estou parada a fazer outras coisas.
Verdadeira actriz da representação e da escrita, para além de outras capacidades. Se o meu orgulho falasse, teria que escrever muito mais. Bjs.
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